segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Vinte Dias de Assédio e Racismo Como Funcionária da American Apparel

Quando me formei na faculdade me mudei para uma nova cidade e queria um trabalho com pouco estresse que me desse tempo para me concentrar em projetos criativos. Eu conhecia pessoas que tinham trabalhado para a American Apparel, tanto com vendas como na sede em Los Angeles, então eu decidi participar de uma entrevista para uma vaga de meio expediente.

Meus amigos haviam tido experiências variadas. Eu fui atraída à empresa porque eu tento tomar decisões éticas como consumidora, e eu achei bacana que a American Apparel pagasse bem a suas costureiras e não usasse mão de obra escrava. Mas eu também estava bastante ciente das acusações de assédio sexual contra o antigo CEO da empresa, Dov Charney. Por ele ter sido convidado recentemente para mudar para um cargo menor, parecia que a companhia estava fazendo progresso.

Eu decidi criar um diário da minha experiência.

Processo da entrevista: A gerente que me entrevista parece principalmente interessada se tenho "umabom perfil para a marca." Ela faz perguntas sobre o meu passado de modelagem e enfatiza a importância dos empregados representarem bem a empresa pela forma como se vestem. Ela diz que a empresa gosta de enfatizar que eles são "verticalmente integrados", mas não sabe o que significa o termo.

22 de julho: No meu primeiro dia, minha gerente me instrui sobre como procurar potenciais ladrões: "Procure por meninas negras, porque são sempre elas que roubam." Ela diz, "Eu sei que é um estereótipo, mas é verdade."

23 de julho: Uma das minhas colegas de trabalho insiste que Dov Charney não deve ser culpado pelo assédio sexual às funcionárias porque "não é que ele as tenha estuprado" e "parece que elas estavam a fim, também." Ela diz que as pessoas muitas vezes entram na loja e perguntam às funcionárias o que elas acham do seu CEO ser conhecido por assédio sexual, e ela "não entende por que eles fazem disso um bicho de sete cabeças."

24 de julho: Uma colega de trabalho confirma a minha observação que a gerente seleciona clientes e funcionários tanto pela raça como atratividade. "Toda vez que uma garota deixa seu currículo, a primeira coisa que ela me pergunta é se a garota era bonita," ela me diz. "E ela nunca contrata garotas negras. Só temos uma, e ela trabalha no estoque." Na American Apparel, há uma ênfase em ter "o tipo certo de cliente" vestindo as roupas e eu percebo que os clientes que se encaixam na estética da marca (atraente, moderna) são atendidos com mais entusiasmo.

25 de julho: Um homem pede minha ajuda para escolher cuecas e quer saber que tamanho eu acho que é o dele. Eu o levo até um gráfico de tamanho na parede perto das roupas de baixo. Ele oferece dinheiro para vê-lo experimentar cuecas e dizer quais ficam melhores. Quando conto isso a uma colega de trabalho, ela reage tranquilamente. Ela diz que na American Apparel, isso "acontece" e que não deveria me incomodar com isso.

29 de julho: Enquanto ajudo um cliente em um provador, a gerente me passa uma nota que diz "FIQUE DE OLHOS NOS ITENS DELA!!!" A cliente é negra. É nítido que perfilamento racial não só ocorria regularmente, como era esperado que o funcionário agisse assim.

6 de agosto: Uma colega de trabalho chega à sala de descanso visivelmente abalada. Quando eu pergunto o que a incomoda, ela diz que ao ajudar um homem a encontrar roupas para sua esposa, ele disse para ela experimentá-las para ele, pois ela e sua esposa tinham aproximadamente as mesmas medidas. Ela não estava confortável fazendo aquilo, porque ele escolheu vários itens de malha e transparências que são usados sem sutiã, mas ela achou que era o trabalho dela ajudá-lo. Quando ela experimentou os itens e saiu do provador, cobrindo-se, ele puxou os braços dela para baixo para que seus seios ficassem expostos. Ele então colocou uma nota de vinte dólares por dentro da calça dela.

Trêmula e nervosa, ela disse à gerente o que aconteceu. A gerente respondeu: "Bem, parece que ele foi embora agora." Não parecia haver um protocolo para os empregados que são assediados sexualmente, e a gerente ficava completamente indiferente quando uma funcionária expressava mal estar por assédio. Ela não pôde sair mais cedo do trabalho, e achava que as roupas que ela usava eram parte da culpa. "É porque nós usamos essas coisas", ela me diz, apontando para seu vestido frente única.

10 de agosto: Uma colega de trabalho me diz que o homem que havia assediado a vendedora no provador tinha voltado e pedido a outra garota para experimentar roupas para ele. Ela também estava incomodada com isso, mas a gerente disse que ela poderia atendê-lo, desde que usasse algo por baixo, (apesar de saber que uma menina havia sido assediada da mesma forma dias atrás). Outra funcionária chamou a polícia após reconhecer o homem; a polícia encorajou todos os empregados a pedir ao homem que ele se retirasse da loja na próxima vez que aparecesse.

11 de agosto: Larguei o emprego sem aviso prévio. Eu sei que não é profissional, mas senti que o ambiente de trabalho era tóxico o suficiente para que eu não gastasse mais tempo lá, pelo meu próprio bem. Fiquei profundamente perturbada e irritada por esses comportamentos antiprofissionais que pareciam ser aceitos por minhas colegas de trabalho e gerentes e pelo comportamento sexualizado que esperavam que as funcionárias apresentassem na venda de roupas. 

Eu sabia que esta era uma empresa voltada para o design, e que as aparências são importantes para a marca. Mas o que eu não sabia era o quão obcecados por aparência as funcionárias e clientes seriam. O clima é hiper-sexualizado, e era esperado das funcionárias que se encaixassem nessa imagem — mesmo ao ponto de experimentar roupas para os clientes. Funcionárias são consideradas modelos ou representantes da marca, e as gerentes estavam realmente preocupadas em como suas funcionárias mulheres estavam vestindo as roupas. Parecia funcionar — todas as funcionárias eram obcecadas com as roupas, experimentando peças, pintando as unhas ao chegar ao trabalho e gastando grande parte de seus contracheques em mercadorias da American Apparel.

Em retrospecto, acho que deveria ter sido mais cuidadosa com uma empresa com um histórico de falta de profissionalismo tão escandaloso. O que eu esperava que fosse um trabalho pouco estressante de meio período, acabou se tornando uma grande fonte de ansiedade e um poço de assédio. A gestão incompetente, horrivelmente racista e depreciativa dos funcionários era corriqueira e criou um ambiente de trabalho hostil.

É lamentável que a American Apparel requeira a seus funcionários que assinem acordos dizendo que não falarão mal da empresa ao sair. Tenho certeza que há muitos empregados indignados (incluindo alguns com quem trabalhei) que têm medo de denunciar a empresa.

Mas parece que para ter uma experiência positiva trabalhando na American Apparel, a pessoa deve ser bastante leal à marca e à imagem que a marca aspira. Muitos dos meus colegas de trabalho encontraram apoio uns nos outros e enfatizavam que eles gostavam de trabalhar lá porque lhes permitia conhecer pessoas que pensavam como eles. Eles eram obcecados pelas mesmas roupas, experimentavam peças juntos, criavam combinações para sair juntos. Não há nada errado com isso. Mas por causa deste entusiasmo, os funcionários sempre pareciam dispostos a ignorar as formas em que seu local de trabalho era profundamente antiprofissional, ou a forma em que eles estavam sendo absolutamente explorados por gerentes e clientes. Enquanto eu estava entusiasmada com certos aspectos da empresa, elas simplesmente não eram suficientes para me fazer ignorar as práticas erradas que encontrei.

20 de agosto: Mais de uma semana depois de sair do meu emprego, eu ainda não recebi meu último salário e tive que ameaçar denunciá-los à justiça do trabalho. O cheque foi enviado a mim no dia seguinte.






FONTE (SOURCE): http://gawker.com/twenty-days-of-harassment-and-racism-as-an-american-app-1629534409

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